segunda-feira, 23 de março de 2009

Vice-Versa

Algumas coisas são muito iguais, tanto na ida, quanto na volta. Tanto no sentido normal, quando se for invertido.
Na matemática ensinam muito isso. Os matemáticos e físicos se vangloriam de sua ciência porque, dizem, "a ordem dos fatores não altera o produto". É assim e pronto.
Do jeito que você fizer continuará dando o mesmo resultado.
E isso, mesmo para uma ciência, é algo fantástico.

O português já não é assim. E se me permitem, vou colocar um Graças a Deus no final da frase.
Estava relendo minha última postagem (Totalidade e Síntese), e notei que escrevi que "saí do cinema sem nada falar".
Pensei em editar e mudar para "saí do cinema sem falar nada", o que tornaria a frase mais direta, mas acabei deixando como estava porque descobri que não é a mesma coisa.
"Sem falar nada"quer dizer que eu teria alguma coisa a dizer, e não disse.
"Sem nada falar" é a condição na qual eu saí do cinema. Poderia ter alguma coisa a falar ou não. A frase não dá a certeza de nada. A única certeza é de que saí calado, mudo.

Adoro o português. Devoro livros.
Depois que começei a blogar, então, mais ainda, porque começei a perceber a sutileza na intenção das palavras.
Isso mesmo. Palavras têm intenções.
Quando você escreve, na verdade está pedindo ajuda às palavras para expressar seu sentimento. Você as agrupa segundo o seu entendimento, e elas dão significado a sua mensagem.

Palavra dita, o vento leva. Se leva, o interlocutor esquece. Se não leva, mesmo assim o entendimento é reforçado pelo olhar, pela entonação, pelo momento, local e circunstância, temperatura, pressão atmosférica, fuso horário, etc. etc.

Já a palavra escrita, não.
Você não disse o que pensou dizer. Você disse o que está escrito.
Você disse o que o leitor leu e entendeu.
Sua chance de dizer o que você queria dizer acabou quando você publicou o que escreveu.
Se escolheu bem as palavras, os acentos, as vírgulas, pausas, entonações, melhor para você. Se não escolheu, paciência. Você será o resultado das suas frases.

Os romanos já sabiam disso, e não se limitavam a invadir outros territórios. Para a total submissão dos conquistados, eles lhes roubavam os deuses e a língua, impondo a eles os deuses e a língua romana, o latim.

Por fim, é bom saber que vice-versa é a verdade pura, a verdade dos matemáticos, que não é a verdade dos sábios.
Os sábios reconhecem que a verdade é a frase debatida, discutida, entendida.
E que a verdade verdadeira não é a dita, é a entendida.
Porque a versão de quem ouve é mais forte do que a verdade de quem diz.

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