quarta-feira, 25 de março de 2009

O erro do segundo mandamento

Tem um erro no segundo mandamento.
Ama ao próximo como a ti mesmo, diz a Tábua da Lei.

Mas, e como é que eu me amo???
Será que devo mesmo levar ao próximo o amor que tenho para comigo???
Fui assistir Gran Torino e saí de lá com essa dúvida.

O filme é fantástico, como são fantásticos todos os filmes do diretor Clint Eastwood.
"Pontes de Madison" e "Sobre meninos e lobos" são os grandes exemplos desse Senhor das Emoções.

O carro, que dá nome ao filme, é a real expressão da necessidade de manutenção das coisas.
Ele, Sr Kowalski, um ex-funcionário da Ford, retira da linha de montagem um Gran Torino, para preservá-lo na sua garagem.
Ele não quer que as coisas mudem. Mas se vê sufocado por tantas mudanças que a vida lhe traz.

A guerra muda sua vida, sua perspectiva de família, sua visão de mundo.
Sua vizinhança muda, saindo seus antigos vizinhos e chegando imigrantes Hmong, do Laos.

Mas, no meio desse caos, seus princípios não mudam.
Ele se recusa a ser visto como um inválido pela família, e demonstra sua força quando percebe que a injustiça toma conta do bairro.


Um homem amargo, com tristeza nos olhos, cansaço na voz e peso nas pernas.
Um homem envelhecido, sem motivos que lhe justifiquem esperar o dia seguinte.
Um homem preso ao passado, que lustra o carro que não usa e que mora num lugar que já não reconhece como seu.

Mas um homem que reconhece o valor da amizade, do respeito, da admiração.
Um homem que tem guardado dentro de si seus valores, não esquecidos.
Um homem que sabe o tanto que somos responsáveis por aquilo que cativamos.
É a redenção de um homem, salvo por seus mais nobres princípios.

Esse homem entrega sua agora curta vida, para que outros a tenham em plenitude.
Esse homem resgata um segundo mandamento, que muitos de nós não deveriamos estar professando.

Não por falta de amor ao próximo, mas por falta de amor a nós mesmos.

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