sábado, 14 de outubro de 2017

ESCRITA


Quando a maciez da pena toca a folha, 
não é a maciez da pena que toca.
Antes, é a tinta que  corre e divide espaço entre a pena e a folha.

Depois, a pena se vai e a folha fica.
A pena busca novas folhas e a folha, não é mais simples folha.

A folha agora é o conhecimento,
gravado na folha pela tinta que, singela,
abraça o papel.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

NO LIMITE ou NO LIMITS

Tenho visto e ouvido muitas manifestações sobre várias questões artísticas. Do Oiapoque ao Chui, passando pelo Palácio das Artes e indo até o Centro Cultural Santander.

Muitos se colocam perplexos pela censura a determinados tipos de artes, vindo de artistas que "não foram compreendidos".

Entendo o ponto de vista e até o alcançaria se me permitissem também colocar que o "artista" de Janaúba também não foi compreendido.
Ah, mas ele ateou fogo em crianças. Isso não se faz.

Ora, ninguém está discutindo a obra e sua significação, mas sim o reflexo dela na opinião das pessoas. E em todos os casos, incluso Janaúba, o ato foi acima da compreensão das pessoas e estas se manifestaram.

O que é arte? O que é um ser humano incompreendido? O que se é permitido ser e fazer?
Se tudo é permitido, estamos reclamando do quê?

Se nem tudo é permitido, quem é que permite? Onde está a regra, a lei?

A regra está naquilo que a sociedade admite ou não, correto? E quem é a sociedade?

Recorrendo à Wikipédia, " Em sociologia, uma sociedade (do latim: societária, que significa "associação amistosa com outros") é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade."

Ora, então há uma norma, uma moda(pelo conceito estatístico). A Sociedade aceita aquilo que lhe é comum em propósitos, gostos, preocupações e costumes. Veja que o conceito excluiu Janaúba e tudo o mais que está no limite do aceitável ou além dele, na fronteira da compreensão ou além dela, do que é aceitável para a maioria.

Podemos entender que aquilo que algum dia nasceu na fronteira, no limite, pode, com o tempo, mudar os rumos, propósitos, gostos e costumes de uma sociedade. Mas serão, na sua origem, contestados.

Precisamos entender isso para entender que as manifestações que se seguiram a tudo que "excedeu" a fronteira, são legítimas.

Ah, mas a sociedade, dita hipócrita, sabe que isso existe. Sabe que tudo o que é mostrado está na internet, nos porões, nas alcovas.

Claro, todos sabemos. Mas não estão sendo "normalizadas". São o que são e ficam lá, na marginalidade, muito além do desvio padrão. Colocar isso numa exposição, numa mostra artistica é tentar "legalizar" algo que a sociedade ainda (e talvez, sempre), se manifesta contra. Se opõe.

Tese e Antítese sempre estiveram se degladiando. O mundo se alterna, evoluindo ou involuindo, segundo a sintese que se obtém dessas duas forças. Para cada opinião existirá seu contrário, para cada verdade, uma alternativa.

De artistas incompreendidos à manifestações de repúdio, vamos vivendo. O que é certo? O que é arte? O que é permitido?

O mundo segue um padrão, e a dita "normalidade" é dada por uma minoria operante ou por uma maioria enfurecida.

A civilização, como um rio, segue o curso que lhe é permitido, sulcando onde pode a terra mais frágil. É a minoria operante atuando por sobre uma maioria sem direção. Promovendo debates, expondo interesses, ousando além da norma.

Em muitos dos casos os limites são "permitidos" e novas fronteiras se abrem. A maioria não se importa quando a minoria operante atua com alguns graus de liberdade.

Mas, às vezes, a maioria se manifesta. É o estouro do dique. A água vem em enorme volume.

É a maioria dizendo o que não admite que aconteça, e aí já não importa se é pau ou pedra, se tem ou não tem caminho. O caminho se faz segundo a maioria.



Opiniões e contra-opiniões movem o curso da história, mas sempre, como disse QUINCAS BORBA, Ao Vencedor, as batatas
 
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