domingo, 21 de outubro de 2007

Um é um. Dois é mais que dois.

Ser sozinho é bom. Solitário, nem pensar. Mas o bom mesmo é sermos mais que um. Quando temos alguém nossa visão de mundo se multiplica. Tem o “eu” que vive em mim, o “eu” que vive no outro e tem o “nós”.
O “eu” que vive em mim já é mais do que o “eu” sozinho, porque é mais feliz, menos ranzinza, menos egoísta. É um “eu” incondicional, que pensa o mundo e não somente a jurisdição do meu olhar. Um “eu” que sonha. Não é legal?

Tem também outro “eu”, o que vive em você, o meu “eu” melhorado. Ele é mais vitaminado, enriquecido pela abordagem que você dá ao meu pensar. Penso, manifesto, você analisa e amplia. Olha aí o meu “eu” melhorado. Ele é filtrado pela forma como você vê o mundo. Quanto mais nos identificamos, mais o meu “eu” melhorado cresce. Também pode acontecer dele ser diminuto, se nossa relação não é boa. Ele se torna dividido, pequeno, castrado. Esse “eu” morre logo, mas o normal é a relação morrer antes. Ninguém agüenta um “eu” castrado.

E o “nós”? Já parou para pensar sobre o “nós”? Ele representa tudo aquilo que nem sou eu nem é você. Aquilo que nasce com o nosso relacionamento, com o nosso gostar. “Nós” só existe a partir de dois “eus” melhorados. É a ausência do egoísmo, do personalismo, da obsessão. É a expressão do amor, quando dois “eus” se fundem. Não é fácil achar isso. Mais fácil é achar muitos pares de “eus”.

Então, soma aí: Quando você se relaciona você não é mais um. Você é....três. O seu “eu”, o “eu” melhorado e o nós. E você e a pessoa amada não formam um casal. Tem o seu eu, o eu do outro, os “eus” melhorados (um de cada um) e o “nós”. Claro que só vai ter um “nós”, né? Se tiver dois, alguma coisa está errada.
Dois “nós” são como dois relógios. Quem usa dois relógios nunca sabe a hora certa e quem tem duas agendas acaba perdendo compromissos. Dois olhos e duas imagens também não dá certo.
Dois olhos e uma só visão. Assim é o “Nós”. Só pode ter um.

Por fim, esqueça toda a brincadeira matemática de somar “eus”. O mais importante é que um “eu” é pouco, e um “nós” não é a soma de dois “eus”. Mais simples, impossível.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Que é autoridade?

Essa pergunta saiu meio que de repente. Estavamos passeando de carro e de repente a pergunta brotou quase que por encanto.

Fiquei dividido entre responder um mero "sei lá" e deslanchar uma tese de doutorado. De relance, entre um e outro, me lembrei da Hannah Arendt. Lá pela página 127 do seu livro ela diz: Não existe mais autoridade. Depois conserta um pouco: Talvez exista, mas só a autoridade dos pais já que "é uma necessidade natural, requerida, obviamente, tanto por necessidades naturais (o desemparo da criança), quanto por necessidade política (a continuidade de uma civilização estabelecida, que somente pode ser garantida se os que são recém-chegados por nascimento forem guiados através de um mundo preestabelecido no qual nasceram como estrangeiros)".
Coloquei umas aspas porque o pensamento e a idéia são dela, mas acho que o texto original não está da forma que escrevi.

Bacana isso! Concordo com ela. Mas discordo quando ela diz que, no mais, a autoridade acabou.Acabou nada!!! Talvez, a autoridade constituida, a por decreto, e é bom mesmo que tenha acabado. Aliás, nunca a respeitei na íntegra.

Acredito na autoridade de quem sabe o que faz e o que fala. Reconheço autoridade em quem demonstra o conhecimento e a competência para que eu possa, não cegamente, me orientar por seus ensinamentos.
Assim, claro que existe autoridade. E como é que as coisas se processam? Você procura quem sabe, ou diz que sabe, e dá um voto de confiança, como fazem aqueles softwares que nos permitem usar por um tempo para conhecer sua funcionalidade. O chamado "demo". Passado o prazo, ou o merecedor da condição de autoridade diz a que veio ou você trava o sistema, e não permite que ele(ou ela) fique verbalizando abobrinhas.

Voltando a Hannah Arendt, concordo com ela de que a autoridade constituida acabou. Ninguém dá uma procuração sem prazo de validade. Na política, damos procuração nas urnas mas já não aceitamos ser por 4 anos. Não disse a que veio, não materializou as propostas, colocamos a oposição para dar um jeito neles. É assim a democracia.

Então a conversa evoluiu e o passeio foi ótimo. Nem me lembro qual era a paisagem fora do carro. Só sei que terminamos o passeio mais cultos e evoluidos, com novas visões de autoridade:
aquela que detém o conhecimento (que para mim é a mais válida), a autoridade para com os filhos (que não nos alongamos porque a Hannah Arendt é fácil de pesquisar no Google) e a autoridade requerida; aquela que se pede um voto de confiança para realizar coisas nas quais acreditamos e que, graças a Deus, teve seu prazo bem reduzido.

E viva a democracia, que nos permite negociar a troca de autoridade entre os poderes, para evitarmos o mando indevido, a autoridade cega, o autoritarismo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Batismo de Sangue

Vi o filme com um misto de entusiasmo e descrença.
Entusiasmo com o cinema nacional, com o resgate de um passado sombrio para que as novas gerações saibam o que aconteceu, sintam o horror daquela época e se comprometam na manutenção da democracia a qualquer custo.

Descrença com o Governo atual. Que lástima. Que tristeza ver aonde foi parar os ideais daquela época.
Frei Beto, José Dirceu, Genoíno e muitos outros. Que tristeza ver o que o poder é capaz de fazer com os ideais e a moral de um homem. Parece que tudo foi em vão.

Mais triste ainda fazer parte daqueles que cresceram com o PT, que votaram anos e anos nos seus candidatos, a espera do dia em que os fundamentos, princípios e a ética do partido estivessem a serviço do povo brasileiro.

Seria muito bonito ver um filme desses num país governado éticamente por aqueles que, um dia, tiveram um sonho libertário. Mas não foi o que aconteceu.

Assim como o Frei Tito, massacrado pelas lembranças do cárcere e da tortura, se liberta no suicídio, matando de vez seus torturadores, como um teatro "noir" nossos libertadores se vendem ao poder, matando de vez o sonho de honradez e ética, fazendo renascer a ausência de moralidade do período negro desse país.
Por quem os sinos dobram?????
 
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