domingo, 22 de março de 2009

Totalidade e Síntese

Assisti de novo ao filme O SIGNO DA CIDADE.

No cinema, vi o filme transcorrer na minha frente. Tudo acontece, e não existe um porque, uma justificativa, um motivo banal ou concreto para que as coisas aconteçam.
Elas, apenas, acontecem.

Saí do cinema sem nada falar. O que vi, naquela sala de projeção, era a vida acontecendo, como num poema de Alberto Caieiro:

"Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi coisa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva –
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra coisa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão –
Porque não tinha que ser.
"

Ao rever o filme, me veio a mesma sensação da primeira vez. Mas um sentimento sem medo, sem rancor, sem dúvidas.
Gente, a vida simplesmente acontece.
Tem gente que morre, gente que nasce, gente que é abandonada, negada, perdida. Tem heróis e bandidos, ambos sem rótulo, sem máscara. Tudo isso somos nós.

Eu vejo o filme, e me vejo ali. Sou diferente, mas me sinto igual. Poderia ser eu a salvar a criança, a fazer o parto, a tomar o tiro. Poderia se eu a me cortar, a saltar da janela, a buscar o amor de qualquer forma.

Eu me utilizo dos mesmos elementos que as outras pessoas para me construir, para existir, para me fazer inteiro. Na formação da nossa personalidade todos nós nos valemos dos mesmos insumos, do mesmo locus, da mesma sociedade. Somos iguais na síntese.

Alguns tiveram famílias e locus diferentes e sairam-se melhores do que eu. Uns por melhores condições, outros, porque souberam se superar, sublimar, evoluir.

Na verdade, a vida que temos é a vida que escolhemos ter.
Somos diferentes na individualidade, mas somos iguais na totalidade.
E assim vamos, Totalidade e Sintese.
Todos, sempre, muito iguais nas suas diferenças.

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