quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ponto Final

Ela se aborreceu e decidiu por um ponto final.
Eu gosto de pontos finais. São melhores que reticências.
Reticências permitem frases incompletas, permitem espera, geram dúvida e angústia.
Pontos finais, não. Eles são claros, mesmo que a frase não o seja.

Ponto final serve até para frase sem sentido, sem motivo.

Eu gosto de pontos finais.
Depois deles você constrói um novo parágrafo, e começa um novo assunto,
deixando tudo que é velho para trás.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A verdade, nada mais que a verdade

Francamente? Não gosto de francamente. Primeiro porque já sugere que você mente o tempo todo. Aí você diz: - Quer saber francamente? Pronto! Tava falando mentira. Sabe aquela conduta "diplomática que sua mãe lhe ensinou? Aquelas regras prá se viver em sociedade? Pois é, o tal do "francamente" acaba com todas elas. Você ali, numa recepção, jogando conversa fora, quando alguém fala do seu desafeto. Você segura as pontas, lembra da sua mãe, e se mantém firme na diplomacia, até que lhe contam o que esse desafeto anda dizendo. Você respira fundo e diz: - Francamente?.... Lá se foram todas as regras de convivência "prô béléléu".... e com razão!!! Eu posso até não saber o que estou dizendo, e isso não é dizer mentira. Mas está longe de ser aceito pelo "francamente". Quando falo, falo com toda a verdade que me é possível empregar. Mas se alguém me pede que diga francamente, fico na dúvida se minha verdade conseguirá superar tamanha expectativa. Quem pede que se diga francamente já promete duvidar. Basta você dizer algo para que a dúvida seja evocada: Será? Então não digo. Ponho sentido na linguagem e cuido de me esconder nas mazelas do português. Adoto as gírias, entende? Assim, como, por exemplo, sei lá.... Talvez seja isso mesmo, ou não!! Não posso afirmar, mas, quer saber? Francamente, hem?!?!?!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sei tão pouco sobre o mar

Sei tão pouco sobre o mar
Nasci nas montanhas.

O muito que via
eram montes sem fim.

Talvez fossse outro
se tivesse o mar por vizinho.

Talvez mais poeta, sonhador.
Talvez mais cético, contestador.

O mar é meu desconhecido.
É algo prá além das montanhas.

Misterioso e distante.
Calmo e traiçoeiro.

O mar me dá medo e sossego. É feitiço. Se move ao sabor da lua.
Eu quieto, ele balança. Coisa doida.

Não, eu sou mesmo das montanhas.

Montanhas me aguçam o ser,
me fazem sonhar sobre o que vem depois e depois.

Montanhas me atiçam,
o mar me descansa.
Montanhas é que me fazem ir e vir.

Eu?
Eu sou o mar das montanhas.
.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Ciclo

Olá!
Deixa eu saber de você?
Viver a vida, a sua vida, a nossa vida.
Entender o amor, o seu amor, o nosso amor.
Deixar a vida, a nossa vida, a sua vida, a minha vida.
Adeus!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Hoje eu não vivi

"A cidade acordou antes de mim,
Me serviu buzinaços na cama
E caminhões despejando cimento.

Comi pão dormido
e o café estava frio.
Vesti a camiseta do lado errado,
e não tive tempo de passear com o cachorro.

Cheguei atrasada no trabalho
E trabalhei com sono até à noite,
quando então voltei sozinha.

Subi pela escada
e assim que entrei em casa,
dormi.

Hoje eu não vivi."

Do livro “Cartas Extraviadas e outros poemas”.
MARTHA MEDEIROS

domingo, 3 de abril de 2011

Anônimos

Eu não sei quem é você.
Pode ser aquela atendente da loja de jeans.
Ou talvez o vendedor da Livraria, não sei.

Talvez tenhamos gosto pela mesma música,
talvez tenhamos nos cruzado no Show do Milton.
Tinha alguém me tampando a visão do palco.
Talvez fosse você, se tiver mais que um metro e oitenta.

Quem sabe nos cruzamos na porta de um restaurante,
eu entrando e você saíndo, ou vice-versa.
Não sei qual de nós almoça mais cedo.

Talvez aquele perfume que senti,
aquele rosto no meio do engarrafamento,
ou na fila do supermercado.

Pode ter sido muito disso, ou quase nada.
Podemos quase nos ter conhecido.
Vizinhos, sócios, amigos, amantes, sei lá!

Somos iguais à maioria dos que cruzam por nós.
Somos o revés do destino, o erro no mapa, a firmeza do acaso.
Somos a prova mais viva da fragilidade de nossa raça.

Anônimos.
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sexta-feira, 1 de abril de 2011

Inviabilidades

A gente vai vivendo, e deixa de perceber, por querer ou não, uma série de inviabilidades.
A gente não se dá conta de que elas estão alí, à espreita, se instalando, devagarinho.
 
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