Este ano estou passando comigo mesmo. Nada de festas ou confraternizações . Nada de uma virada brusca, de mudanças radicais de calendário, hábitos ou promessas. Apenas o encontro com um outro novo dia. Com a gratidão de estar vivo e a certeza que não se evolui ou se constrói algo da noite para o dia. Isso vale para mim e para meu olhar para os outros.
Sempre quis olhar para o Outro e entendê-lo. Ainda estou tentando conseguir isso.
Entendê-lo quer dizer que ele não teve o pai que eu tive e que, portanto, não terá o foco e a determinação como objetivo de vida.
Ou teve a mãe da minha mulher, que a ensinou a ser organizada, cuidar das coisas e planeja-las com antecipação.
O Outro é alguém que também está em construção. Alguém que olha para mim e ressente de eu não ter tido o pai que ele teve, ou uma mãe igual a sua. Que me acha mais desorganizado que seus irmãos e intolerante com certas coisas. Que não olha os meus acertos por absoluta falta de tempo; tomado que está em perceber os meus defeitos.
O que queremos? A ditadura de todos vivendo a minha vida, fazendo as minhas escolhas e ouvindo as minhas músicas? Queremos um jardim de margaridas, sem chance para as rosas, cravos e hortencias ?
Seria tudo muito pobre. E eu mais pobre ainda por querer que os outros sejam iguais a mim. Sem nada para me ensinar, assustar ou surpreender.
Um mundo sem sustos ou exclamações? Esse sim, seria um mundo horrível.