Tenho visto e ouvido
muitas manifestações sobre várias questões artísticas. Do Oiapoque ao Chui,
passando pelo Palácio das Artes e indo até o Centro Cultural Santander.
Muitos se colocam
perplexos pela censura a determinados tipos de artes, vindo de artistas que
"não foram compreendidos".
Entendo o ponto de
vista e até o alcançaria se me permitissem também colocar que o
"artista" de Janaúba também não foi compreendido.
Ah, mas ele ateou
fogo em crianças. Isso não se faz.
Ora, ninguém está
discutindo a obra e sua significação, mas sim o reflexo dela na opinião das
pessoas. E em todos os casos, incluso Janaúba, o ato foi acima da compreensão
das pessoas e estas se manifestaram.
O que é arte? O que
é um ser humano incompreendido? O que se é permitido ser e fazer?
Se tudo é permitido,
estamos reclamando do quê?
Se nem tudo é
permitido, quem é que permite? Onde está a regra, a lei?
A regra está naquilo
que a sociedade admite ou não, correto? E quem é a sociedade?
Recorrendo
à Wikipédia, " Em sociologia,
uma sociedade (do latim: societária, que significa "associação amistosa com
outros") é o conjunto de pessoas que
compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre
si constituindo uma comunidade."
Ora, então há uma
norma, uma moda(pelo conceito estatístico). A Sociedade aceita aquilo que lhe é
comum em propósitos, gostos, preocupações e costumes. Veja que o conceito
excluiu Janaúba e tudo o mais que está no limite do aceitável ou além dele, na
fronteira da compreensão ou além dela, do que é aceitável para a maioria.
Podemos entender que
aquilo que algum dia nasceu na fronteira, no limite, pode, com o tempo, mudar
os rumos, propósitos, gostos e costumes de uma sociedade. Mas serão, na sua
origem, contestados.
Precisamos entender
isso para entender que as manifestações que se seguiram a tudo que
"excedeu" a fronteira, são legítimas.
Ah, mas a sociedade,
dita hipócrita, sabe que isso existe. Sabe que tudo o que é mostrado está na
internet, nos porões, nas alcovas.
Claro, todos
sabemos. Mas não estão sendo "normalizadas". São o que são e ficam
lá, na marginalidade, muito além do desvio padrão. Colocar isso numa exposição, numa
mostra artistica é tentar "legalizar" algo que a sociedade ainda (e
talvez, sempre), se manifesta contra. Se opõe.
Tese e Antítese
sempre estiveram se degladiando. O mundo se alterna, evoluindo ou involuindo,
segundo a sintese que se obtém dessas duas forças. Para cada opinião existirá
seu contrário, para cada verdade, uma alternativa.
De artistas
incompreendidos à manifestações de repúdio, vamos vivendo. O que é certo? O que
é arte? O que é permitido?
O mundo segue um
padrão, e a dita "normalidade" é dada por uma minoria operante ou por
uma maioria enfurecida.
A civilização, como
um rio, segue o curso que lhe é permitido, sulcando onde pode a terra mais
frágil. É a minoria operante atuando por sobre uma maioria sem direção.
Promovendo debates, expondo interesses, ousando além da norma.
Em muitos dos casos
os limites são "permitidos" e novas fronteiras se abrem. A maioria
não se importa quando a minoria operante atua com alguns graus de liberdade.
Mas, às vezes, a
maioria se manifesta. É o estouro do dique. A água vem em enorme volume.
É a maioria dizendo
o que não admite que aconteça, e aí já não importa se é pau ou pedra, se tem ou
não tem caminho. O caminho se faz segundo a maioria.
Opiniões e
contra-opiniões movem o curso da história, mas sempre, como disse QUINCAS
BORBA, Ao
Vencedor, as batatas