quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

A CIDADE DESERTA

Diferente das cidades do interior, minha cidade é movimentada. Como toda Capital, um caos. 
A gente se acostuma. Os ruídos da cidade entram em nós e passamos a não mais ouvi-los. Os barulhos são pedaços da cidade. 
Por isso mesmo é que no Natal e Ano Novo a cidade me assusta. Não pelos barulhos. Pelo silêncio.
A cidade para, as ruas ficam desertas. Todos, unidos, em família, estão na expectativa da comemoração.

O que eu faço nessas datas? Eu rezo, eu choro, eu me defino.

Essa época do ano, há muitos anos, tem sido uma data triste.

Eu ainda não consegui achar uma fórmula para viver a sua plenitude. Eu sei que deveria ser grato por estar vivo, por ter saúde, por ter família e amigos, mas algo em mim não funciona assim.


Sim, sou grato. Não só no Natal, mas em todos os dias do ano. Sou grato por estar vivo, por ter saúde, pelos meus amigos e por ter uma linda família. Mas, no Natal? É diferente.


No Natal eu sinto falta. A falta daqueles que se foram. Sinto a ausência, o vazio. Sinto como se todos os demais dias fossem dos outros, para que esses dias, o Natal e o Ano Novo, sejam meus. Não meus, mas dos Meus Ausentes.


Eles olham para mim e me vêem como ninguém vê. Eles me conhecem mais porque estão dentro de mim. Para eles, não há segredo. Eles sabem quem sou, o que sou, o que penso.

Nessas datas eles se manifestam e conversamos. Conversamos sobre quem sou e o que ando fazendo. Sobre o que fiz da vida nesse último ano. Sobre os planos que tenho para o futuro e se conseguirei empreendê-los sendo quem sou e fazendo o que faço.

Eles não são nada fáceis. Não me dão a minima chance de justificar um deslize ou outro. Não aceitam desculpas. Mas é assim que tem que ser, é assim que eles me podem ser humanamente úteis. 

E descubro, enfim, que o silêncio da cidade deserta também está dentro de mim.




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