sábado, 28 de dezembro de 2019

DA SOLIDÃO

A solidão me atrai.
Se gosto dela? Não sei. Já tive mais certeza de que não gostava. Hoje? Realmente não sei.

A solidão é como uma mãe. Nunca me pediu nada em troca. Quando retornava, depois de mudar de cidade ou fechar um relacionamento, ela estava lá, à minha espera. Não me perguntava onde fui nem o que fui fazer. Não dizia bem-feito ou bem-vindo. Apenas me recebia, quieta, calma, imune aos acontecimentos.

Já pensei na  solidão como mais um dos ingredientes do desamparo. Além dela, o medo e a ansiedade. Mas retirei a solidão da receita. Com o tempo, seu sabor deixou de ser tão amargo e não combinava com a força dos demais. 

Desamparo não é uma condição daqueles que sempre foram sozinhos.   Desamparo é quando lhe tiram o chão, quando lhe cortam os laços. Quando você tinha algo valioso e deixou de ter. Os desamparados foram felizes algum dia. Tinham relacionamentos duradouros. Acreditavam que tudo era para sempre. Um desamparado passou mais tempo no amor do que na solidão.

Voltemos à Solidão. 

Não saber amar é motivo para a solidão. Não reconhecer o amor também; embora se tenha a desculpa de dizer que esperava que o amor fosse outra coisa. Como vou saber, se nunca amei? pergunta o solitário indignado.

Achei que o amor fosse a construção de duas pessoas. Que não ia valer o conceito de cada um, mas sim a experimentação de cada um. Achei que o amor seria um conceito construído a cada relação porque deveria depender das experiências de cada um, não acham?

Eu só posso amar a partir do que eu sou, do que eu tenho de vida dentro de mim. Então o amor é único em cada relação. E só pode existir quando a vida de cada um foi entregue ao outro.

O que tem de lindo, tem de complexo. O que tem de simples, tem de intenso. 

O Amor é muitas coisas. A Solidão é só Solidão.

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