sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

ABANDONO

Tudo bem, eu errei.
Fui embora, abandonei. Mas não fui para longe, apenas atravessei a rua.
Fui, para deixar o ar menos pesado.
Ali, naquela casa, não cabia mais duas pessoas tendo razão. 

Fui, mas não desapareci. Tínhamos nossos finais de semana, as reuniões de pais e  mestres, as competições de natação,  as festas da escola.
Mantive-me presente da forma que era possível.

Ah, sim, claro, num determinado momento fui para longe.
Mas o meu emprego tinha acabado aqui. 
Ou eu iria ou íamos amargar a perda dos benefícios. 

Mas também não desapareci. A gente se comunicava e tinham as minhas férias, e as suas também. Feriados e carnaval.

Não estou reclamando ou cobrando presença. Muito menos satisfação.
Imaginei que, após tudo que passamos a gente poderia, ao menos, ser amigos.

Coisa simples, nada complicado.
Se ver de vez em quando, trocar idéias,  nos falarmos sobre a vida, os projetos,  as viagens. Nada obrigatório.  Coisas naturais entre amigos.

Vejo que isso não acontece.  
Sonhei que acontecesse, mas as pessoas são diferentes.

Família não quer dizer muita coisa. Nascer no mesmo lugar é apenas uma questão geográfica.  E biológica também. Mas é só isso.
Guardamos a informação de família para o caso de precisarmos de um rim, ou transplante de medula, e só.

Para querer compartilhar,  dividir, estar juntos, é preciso formar uma congregação,  uma célula.  Aí sim, a vida acontece e os membros, os elementos da célula, estão  comprometidos com a vida uns dos outros.

Foi isso que aconteceu.  Nascemos da mesma família mas formamos células diferentes.

O que posso fazer, senão respeitar esse destino e cuidar da minha vida e da minha saúde.  

Ainda me resta, se necessário,  fornecer uma medula ou um rim, não é mesmo?

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