quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Da estranha arte de perdoar.

Perdoar exige despreendimento.
Toda arte exige despreendimento para você não ser engolido por ela.
O criador não pode ser menor que a criatura.

Perdoar também é isso.
Perdoar exige que você seja maior que o próprio ato, ou vai ser engolido por ele.
Vai se perder no perdão, vai estacionar, vai criar nulidade para você mesmo.

Perdoar exige compromisso.
Compromisso de não pensar mais no ocorrido.
Compromisso de não elevar o ato a uma condição divina.

Perdoar tem o dom de tirar a culpa de alguém.
De devolver-lhe à vida, mesmo que esse alguém nem perceba isso.
Perdoar te eleva a uma condição que talvez você não queira, ou não possa estar.

Mas perdoar também permite reincidência.
Porque, sem culpa, somos inconsequentes.
Perdoar inibe o remorso, e remorso é bom.
É bom porque substitui a maturidade.
Se não existe maturidade, há que se ter remorso,
senão o mundo fica menor do que era.

Perdoar é condicional. Pode acontecer ou não.
Muitas das vezes é melhor que não aconteça,
para que você e o outro não se sintam melhores do que são.
Para que a vida continue a fluir,
dando a cada um o seu momento, o seu pesar,
o seu amadurecimento.

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