segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Que é autoridade?

Essa pergunta saiu meio que de repente. Estavamos passeando de carro e de repente a pergunta brotou quase que por encanto.

Fiquei dividido entre responder um mero "sei lá" e deslanchar uma tese de doutorado. De relance, entre um e outro, me lembrei da Hannah Arendt. Lá pela página 127 do seu livro ela diz: Não existe mais autoridade. Depois conserta um pouco: Talvez exista, mas só a autoridade dos pais já que "é uma necessidade natural, requerida, obviamente, tanto por necessidades naturais (o desemparo da criança), quanto por necessidade política (a continuidade de uma civilização estabelecida, que somente pode ser garantida se os que são recém-chegados por nascimento forem guiados através de um mundo preestabelecido no qual nasceram como estrangeiros)".
Coloquei umas aspas porque o pensamento e a idéia são dela, mas acho que o texto original não está da forma que escrevi.

Bacana isso! Concordo com ela. Mas discordo quando ela diz que, no mais, a autoridade acabou.Acabou nada!!! Talvez, a autoridade constituida, a por decreto, e é bom mesmo que tenha acabado. Aliás, nunca a respeitei na íntegra.

Acredito na autoridade de quem sabe o que faz e o que fala. Reconheço autoridade em quem demonstra o conhecimento e a competência para que eu possa, não cegamente, me orientar por seus ensinamentos.
Assim, claro que existe autoridade. E como é que as coisas se processam? Você procura quem sabe, ou diz que sabe, e dá um voto de confiança, como fazem aqueles softwares que nos permitem usar por um tempo para conhecer sua funcionalidade. O chamado "demo". Passado o prazo, ou o merecedor da condição de autoridade diz a que veio ou você trava o sistema, e não permite que ele(ou ela) fique verbalizando abobrinhas.

Voltando a Hannah Arendt, concordo com ela de que a autoridade constituida acabou. Ninguém dá uma procuração sem prazo de validade. Na política, damos procuração nas urnas mas já não aceitamos ser por 4 anos. Não disse a que veio, não materializou as propostas, colocamos a oposição para dar um jeito neles. É assim a democracia.

Então a conversa evoluiu e o passeio foi ótimo. Nem me lembro qual era a paisagem fora do carro. Só sei que terminamos o passeio mais cultos e evoluidos, com novas visões de autoridade:
aquela que detém o conhecimento (que para mim é a mais válida), a autoridade para com os filhos (que não nos alongamos porque a Hannah Arendt é fácil de pesquisar no Google) e a autoridade requerida; aquela que se pede um voto de confiança para realizar coisas nas quais acreditamos e que, graças a Deus, teve seu prazo bem reduzido.

E viva a democracia, que nos permite negociar a troca de autoridade entre os poderes, para evitarmos o mando indevido, a autoridade cega, o autoritarismo.

0 COMENTÁRIOS (Clique e Faça o Seu):

 
BlogBlogs.Com.Br